quarta-feira, março 29, 2006

cauterização



Alguém passa e eu olho.
Qual seria o liame entre nós?
Quem conhece o estranho
Que desperta questões
Ao meu olhar especulativo?
O estranho do outro lado da rua
Tem seu leito
Sabe-se lá onde.
Seus pertences, sua história
Numa trouxa de pano
Judiada pela vida.
Sentimentos?
Quem saberá?
Quem conhece o que
Num simples fio de imagem
Traz tanta mensagem
Presa na consciência?
Simples como o fio:
Não tenho nada com isso.
Volto pra casa.
Esqueço tudo.

Outubro/92




imagem:
http://www.civilia.es/diferentes/2000/306.jpg

terça-feira, março 28, 2006

ouve Senhor!


Quantas vezes tentei
Escrever-te o poema de adoração
Que fluísse de dentro, perfeito.
As falhas,
Grandes marcas,
Grandes manchas,
Impedem de chegar
Ao trono único, ao altar.
Derrama, Senhor,
Da tua graça e amor.
Coloca a cruz
Do teu filho Jesus
Como ponte para o perdão.
Jesus:
Fonte de vida pra consagração.
Jesus:
fonte de vida pra união.
Jesus:
Fonte de vida pra comunhão.

Outubro/92


Músicada pelo Fábio. Fizemos nessa época muitas parcerias de sucesso.

sublime confusão

Queria uma forma de expressão artística
Diferente dessa esquematização de palavras.
Uma renovação ilustrativa
Não visível a olho nu.
Queria desenvolver o parágrafo
Sem ter que me ater às margens.
Queria uma folha de papel
Para poder enquadrar o sonho
Da forma mais abstrata,
Sem ter que definir
O que é o espírito.
Queria um ingresso à arte
Realizado por contraste,
Sem ter que discorrer comparações inúteis.
Queria que essas crônicas de costume
Comprometidas com a denúncia,
Delegassem a seus autores
Poderio necessário
Para retirar toda a maldade
Que se esconde atrás da porta.
Queria que os seres humanos,
Enlouquecidos e doentes,
Vivessem algum dia.
Queria fazer poesia
Sem ter que me explicar.
As imagens puras e simples
Seriam boas razões.

Julho/91

poucos podem entender


Minha trajetória poética:
Inútil junção de palavras sem sentido,
Tendo um narrador em primeira pessoa
Capaz de captar sensações,
Partículas de um conflito vivido
(saudade x paixão),
Analisar a seqüência de aspectos,
Incorporar termos acessórios
A esta poesia de tom melancólico,
Sem gosto ou bucólico...
Minha trajetória poética:
Busca contínua de palavras ideais
Para dizer do sentimento
Que corre por entre veias,
Acompanhando o líquido vital.
Minha trajetória poética:
É olhar para aquela carta,
Virar os olhos para a janela
E tentar tirar das nuvens
Duas linhas para um poema.
Minha trajetória poética
Se resumiria em apenas três palavras apenas.
Mas é difícil dizer,
Poucos podem entender
O significado real de
“eu te amo”.
Minha trajetória poética...


Julho/91

1991 foi o ano de maior produtividade literária. Coincide com o curso de joenalismo que iniciei. A vida dá tantas voltas. Quem sabe algum dia eu volte a ser amante das letras.

segunda-feira, março 27, 2006

o espelho

Arranha-céus.
Concreto armado.
Resquícios do azul natural.
A procura desvairada em cada rosto...
Onde estás?

Viadutos sufocantes.
Veículos tresloucados
Em guerra crua contra o tempo.
A procura desvairada em cada esquina...
Onde estás?

Vil corrida pela cidade.
Avenidas.
Rudes combinações de sons.
Visual fremente.
Cinzentos tons.
A procura desvairada em cada espaço...
Onde estás?

Todos os lugares.
Fim da cidade.
Vã procura.
De repente,
Um espelho.
Dele se desprende
A tua imagem
Sacramentada em meu próprio mundo.
Lá estavas e eu não te via...

Junho/90

uma das primeiras poesias

sexta-feira, março 24, 2006

na escola

É cedo. É sol. É dia.
-..."já pra escola!"
Livro, lápis. Lençol, já ficou.
Papel, palavra, pela vida vai levar.
Brinca, corre, pinta, come.
Brinquedos, amigos, lembranças.

Bola, pião, corda, botão.
Boneca, carrinho, pratinho, peteca.
Brinca de viver.
Vive de brincar.

É fome. Fome e sede.
Sede de tudo.
Fome de vida.
Tudo olha.
Tudo aprende.

Corre, corre.
Corre pra vida.
Corre pra frente.
Cresce e pula.
Um dia, vira gente.

Sorriso gostoso.
Abraço amistoso.
Sabe que sempre está lá.

É tia , é "Prô".
às vezes, também um pouco mãe.
Chora, beija, corre pra ela.
A tia é quem mais sabe no mundo.
Tomara amanhã chegue logo,
Pra encontrar tudo isso de novo.


formatura do pré de Gustavo- Escola Primi Passi- dezembro de 2004.
Pra você, meu filho.

Lembrando-me de você.




Mãos firmes
Roçando o rosto pueril.
Dedos fortes se entrelaçam nos finos cabelos.
Abraço apertado.
E o colo seguro
Que acolhe o choro, a dor, a dúvida.

Força, brandura.
Carinho, firmeza.
Capacidade de mesclar
Disciplina e amor.

Esteio.
Modelo.
Provedor.
Sacerdote do lar.

Conselho certo.
Vivência concreta.
Tem sempre de ser
A palavra final.

Pai, saudade de seu colo agora...
Tornar-me-ia criança novamente
Apenas para sentir seu cheiro e
deixar o tempo passar.

Onde você está não há choro.
Um Abraço Maior o acolheu.
A lágrima ficou somente em meu rosto.


Homenagem a meu pai-concurso poesias escola dominical-agosto/2005-igreja presbiteriana maranata

quarta-feira, março 22, 2006

JUNÇÃO

Toda pena quando tinta
Quer dizer alguma coisa...
Assim, o branco já não é.
Toda vida quando não só
Traduz cumplicidade...
Assim, uma só já não é.


Longe ou perto, duas são.
Jamais se dispersarão.
Quase que um respirar.
Apenas um viver.
É assim que me sinto.
Quando me entendo você...


25/04/2000

terça-feira, março 21, 2006

canção de marta




Água, óleos, perfumes e vinho
Comida, pão, panos finos e linho
Tudo pronto para meu mestre cuidar
Já chega, sem demora.
È divino! Merece! É hora de tudo apressar.

Em meio a minhas tarefas
Onde corro, faço tudo com pressa
Escuto ao longe sua voz
Como é doce! E tem tanto poder...
Não posso divagar, o tempo é algoz.
Meu mestre precisa comer.

E assim vejo Maria:
Com ele nem se importa
Nada fez para recebê-lo
Que alma de criança,
Ficando somente a vê-lo.

No momento em que Ele me vê
Com seu imenso amor me repreende:
- Marta! Que fazes?
Tua alma precisas cuidar.
Vê tua irmã e aprende.

Ah! Que dor de minh’alma
que se quebra, desmancha e chora
meu coração pensava estar certo

Agora com clareza,
Seu olhar ciente de tudo,
Seu poder me envolvendo de perto...

Como eu queria, com toda certeza
Fazer o tempo voltar, agora
E ficar a seus pés, em sintonia direta, contigo, Jesus...



21/03/2006
Obs: figura - Alessandra Cimatoribus