sábado, agosto 29, 2009

Janires, amigo poeta


Foi Por Você

(Janires)

Foi por você que gosta de futebol ou de rock n' roll
Ou de ficar batendo papo com a "tchurma" lá na esquina
Foi por você menina, que fica sonhando, esperando
O seu Dom Quixote voltar das cruzadas contra os moinhos
Te pôr na garupa da motocicleta e voar

Foi por você que transa tudo ao natural
Que gosta de ficar sentado na beira da fogueira
Tocando e cantando, velhas canções de paz
Foi por você intelectual
Que vive discutindo as emendas constitucionais
Nas assembléias dos botecos
Foi por você rapaz, que mora na beira do cais
Esperando o marinheiro Popeye voltar
Trazendo o navio do Peter Pan

Foi por você que come de marmita, que pega trem lotado
Foi por você que está desempregado, que está desesperado
Foi por você que o rei, que o rei Jesus nasceu
Que o rei Jesus morreu,
Que o rei Jesus ressuscitou

Jesus é o nosso Senhor

sábado, agosto 22, 2009

vote

mulheres escrevem

mulheres cozinham,
misturam aromas, sabores e texturas.
mulheres bordam,
entrelaçam fios,cores e tato.

mulheres geram vida,
embalam choros, sorrisos e alma.
mulheres ensinam a viver,
direcionam caminhos, pensamentos e sonhos.

mulheres sentem
(e têm sexto sentido)
mulheres pensam
mulheres escrevem.

sábado, agosto 15, 2009

verde



Eduardo Gudin/Costa Netto

Quem pergunta por mim
Já deve saber
Do riso no fim
De tanto sofrer
Que eu não desisti
Das minhas bandeiras
Caminho, trincheiras, da noite

Eu, que sempre apostei
Na minha paixão
Guardei um país no meu coração
Um foco de luz, seduz a razão
De repente a visão da esperança
Quis esse sonhador
Aprendiz de tanto suor
Ser feliz num gesto de amor
Meu país acendeu a cor


Verde, as matas no olhar, ver de perto
Ver de novo um lugar, ver adiante
Sede de navegar, verdejantes tempos
Mudança dos ventos no meu coração
Verdejantes tempos
Mudança dos ventos no meu coração

sexta-feira, agosto 14, 2009

Sol de Bagdá


(Jorge Camargo)


O velho sol amigo e bom
Que brilha aqui, que nasce lá
No horizonte de Washington
É o mesmo sol de Bagdá

A lua de Jerusalém
É bela como uma boneca
De porcelana e de cetim
Cruzando alegre o céu de Meca

A chuva que alimenta o chão
Renovadora melodia
É chuva sobre o Paquistão
É chuva que cai sobre a Índia

O vento que vem e não fica
Que mísseis nunca abaterão
É vento livre em terras de África
Onde o inimigo é o próprio irmão

Isto sem falar na Coréia, no Japão,
Na Argentina, na Inglaterra,
Na Bósnia, no Azerbaijão,
Na Geórgia, no Timor,
Na Colômbia, na Venezuela,
No Afeganistão…

O mesmo sol, a mesma lua,
A mesma chuva, o mesmo vento
E não vestimos mesma luva e o mesmo sentimento

O mesmo sol, a mesma lua,
A mesma chuva, o mesmo vento
Por que não termos mesma voz e o mesmo pensamento?

quarta-feira, agosto 12, 2009

check list


eu queria ter:

a aparência da Gisele Bundchen,
a inteligencia da Clarice Lispector,
as poesias da Adelia Prado,
a voz da Roberta Sá ou da Cintia Scola,
(se fosse homem, a do Carlos Sider),
a performance da Fernanda Takai,
o gosto musical da Marisa Monte,
as melodias do Fabinho Silva ou do Ivan Lins,
as letras do Jorge Camargo,
a simpatia do Gerson Borges,
o tocar violão do João Alexandre,
o carisma do Robin Willians,
o desprendimento do Roberto Diamanso,
a brasilidade do Carlinhos Veiga,
a autenticidade da Vanessa da Mata,
a bossa da Leila Pinheiro


continua (....)

segunda-feira, agosto 10, 2009

retintura


aos que, "com sutileza", argumentam
acerca da essência da matéria,
da pureza da espécie,
só resta concluir tratar-se
absoluta inutileza.

sois carne rubra,
caldo de barro,
tingidura do Divino,
imagem e semelhança,
sopro, vida e pintura.

pó de tinta que pintar pode,
mas que a qualquer hora morre
e volta ao pó da terra,
e já não pode,
pois podado foi.

cor de alma,
cor de pele,
tom de coração,
palete de vida,
retinta na Redenção.

(07.08.09)

sábado, agosto 08, 2009

canção quase inquieta

(Cecília Meireles, Flor de Poemas)

De um Lado, a eterna estrela
e do outro a vaga incerta,

meu pé dançando pela
extremidade da espuma,
e meu cabelo por uma
planície de luz deserta.

Sempre assim:
de um lado, estandartes do vento …
- do outro, sepulcros fechados.
E eu me partindo, dentro de mim,
para estar ao mesmo momento
de ambos os lados.

Se existe a tua Figura,
se és o Sentido do Mundo,
deixo-me, fujo por ti,
nunca mais quero ser minha!

(Mas, neste espelho, no fundo
desta fria luz marinha
como dois baços peixes,
nadam meus olhos à minha procura …
Ando contigo — e sozinha.
Vivo longe — e acham-me aqui…)

Fazedor da minha vida,
não me deixes!
Entende a minha canção!
Tem pena do meu murmúrio,
reúne-me em tua mão!

Que eu sou gota de mercúrio
dividida,
desmanchado pelo chão …

sexta-feira, agosto 07, 2009

Adélia Prado retoma o diálogo com Deus em dois livros


(in O Estado de São Paulo, 22.05.1999)



Depois de cinco anos sem publicar, a poeta mineira lança `Oráculos de Maio', uma coletânea de poemas, e `Manuscritos de Felipa', um texto curto, que ela define como uma experiência literária e religiosa



Depois de O Homem da Mão Seca, de 1994, a poeta mineira Adélia Prado ficou cinco anos sem publicar. Volta agora com dois livros simultâneos: Oráculos de Maio (Siciliano, 139 págs.), coletânea de poemas, e Manuscritos de Felipa (Siciliano, 161 págs.), uma prosa curta. Antes de escrevê-los, Adélia atravessou um difícil período de vazio. Convidada, por fim, para assinar crônicas semanais no Correio Braziliense, sem planejar, acabou retornando aos livros. Nas últimas 20 semanas de sua vida de cronista, Adélia passou a publicar em sua coluna aqueles que viriam a ser os 20 primeiros capítulos do Manuscrito de Felipa.

Os dois novos livros assemelham-se porque, mais uma vez, Adélia escreve para dialogar com Deus. O leitor entra só como testemunha e até um pouco como invasor. Mas, apesar dos fortes laços que tem com a religião, Adélia considera-se uma poeta e não uma profeta. "Meu projeto sempre foi escrever", ela diz. Lançados os dois livros, continua a trabalhar numa longa série de poemas, ainda sem destino fixado. Adélia não se tem furtado a dar palestras não só para grupos de católicos, mas também para leigos das mais diversas especialidades, entre eles muitos psicanalistas. Não a afeta que parte da crítica e também da comunidade dos poetas, fiéis a um velho preconceito, ainda a considerem mais uma catequista do que uma escritora. Está serena, segue seu caminho sem olhar para os lados. Foi nesse estado de ânimo que, por telefone, conversou com o Caderno 2.

Estado - Você ficou um longo tempo sem escrever. O que ocorreu?

Adélia - Foi um período de desolação. São estados psíquicos que acontecem, trazendo o bloqueio, a aridez, o deserto. Até que recebi um convite do Correio Brasiliense para escrever crônicas. Um belo dia, escrevendo uma crônica, eu comecei: "Antes fosse tudo culpa de má arbitragem e estresse muscular..." Não era uma crônica, era o começo dos Manuscritos de Felipa, mas comecei a publicar os capítulos do livro nos jornais como se fossem crônicas. Cheguei a publicar uns 20 capítulos. De modo paralelo, comecei a escrever os Oráculos de Maio, então os dois livros saíram juntos.

Estado - Tanto os poemas como os manuscritos são, a rigor, longos diálogos com Deus. De que modo você separa experiência literária de experiência religiosa?

Adélia - Não separo, para mim elas são a mesma coisa. Muitos poetas, aqueles que se dizem ateus, apesar da grande poesia que fazem, não ligam uma coisa à outra. Mas a poesia é um fenômeno de natureza religiosa, pois tem um papel fundador, que me conecta ao centro do ser. Deus é o grande problema e a grande platéia, tanto que eu engano os críticos. Mas não engano Deus.

Estado - Não existe o risco de você ser lida como profeta e não como escritora?

Adélia - Eu entendo a poesia como um oráculo, a fala de uma divindade. Como posso dissociar as duas coisas? Mas sei que, porque não dissocio, corro o risco de ser vista como uma catequista e não uma poeta. Estou fazendo uma poesia na qual o religioso é forte? Estou. Mas é poesia? É poesia. Eu sou catequista, sim, mas em outras horas.

Estado - Intelectuais não a discriminam por isso?

Adélia - Sim, isso está claro em muitos comentários, mas o que hei de fazer? O que teria a dizer a essas pessoas? Que só sei costurar assim. Antes de me casar, eu fiz um curso de corte e costura e aprendi que existem muitas variações da saia godê. Num curso de costura, você aprende o básico e o restante é variação.

Estado - Que estilo de catequese você pratica?

Adélia - Não tenho aquilo que se espera de uma catequista católica. Falo a partir de outros lugares, do lugar da poesia e também da psicanálise, que estão muito atreladas à religião. O curioso é que, primeiro, comecei a receber convites para falar em círculos mundanos, agnósticos, só agora começo a ser convidada para falar para movimentos católicos e protestantes.

Estado - E sobre o que você é chamada a falar?

Adélia - Falo em encontros para casais católicos, em retiros espirituais. Também já falei em encontros de psicanalistas, tratando da relação entre fé e mística. Parto da poesia, da psicanálise, não importa, chego sempre à questão da natureza transcendente.

Estado - Você não tem medo de ser vista como um guru?

Adélia - Meu ponto de partida é sempre literário. Corro o risco é dos preconceitos, e o preconceito é um inferno. Há pessoas que não têm audição ao que estou falando, e sem ter audição têm opinião. Não tenho medo de virar guru. Para mim, a poesia tem uma qualidade de oráculo. Mas não sou uma divindade, sei que sou só porta-voz. Agora, se uma pessoa acreditar que o poema pode curar, é a força da palavra que está curando, não sou eu. Se a poesia faz bem, ótimo, a mim também ela faz muito bem.

Estado - E como você reage aos preconceitos?

Adélia - Eu fico só sofrendo. Se eu fosse grande igual ao Rosa, eu o imitaria, colecionando as críticas ruins de cabeça para baixo. É o que se diz a meu respeito: "Apesar do religioso, até aparece alguma poesia". Como se o religioso não fosse matéria de poesia. O registro católico, esse sim, é acidental, resulta de minha cultura, de minha herança familiar. O católico é acidental, mas o religioso é essencial. Podia ser budista, islâmica, judaica, mas seria sempre religiosa.

(...)

terça-feira, agosto 04, 2009

sei lá entende?

de verso em verso,
valso.
de valsa em valsa,
sôo falsa.
de vôo em vôo,
calço.
sapatos mágicos.
viajei agora.