segunda-feira, setembro 27, 2010

Retrato

(Cecilia Meireles)

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"


há quem diga que quem ama não disciplina.
eu, por mim, creio que é o contrário.
muitas vezes, precisamos colocar as coisas nos eixos pra vida voltar a ter sentido.
e olha que ela passa rápido demais.
é passar os olhos pelo relógio e ver que a imagem que está no espelho é estranha.
muito dificil lidar com perdas, filhos que vão embora, passar os dias em branco, enfermidades, solidão.
complicado passar da posição de condutor à de conduzido.
tornar-se como criança.
porém, a infância é menos árdua.
envelhecer pode ser maravilhoso, mas não deixa de ser um parto tardio, se é que me entendem.
necessário despojar-se de conceitos e ritos, mas também apropriar-se de novas formas, novos fazeres.
espero que minhas disciplinas não sejam tão ásperas, apesar de revestidas de muito amor.
desejo que façam surtir renovação.